Pesquisa: maconha é nova porta de entrada na dependência química entre adolescentes

O “padrão de porta de entrada” do uso de substâncias por adolescentes está mudando, e a maconha é cada vez mais a primeira substância na sequência do uso de drogas por adolescentes, segundo pesquisadores da Escola de Administração Pública da Universidade de Columbia.

Tradicionalmente, os estudantes experimentam cigarros e álcool antes da maconha, mas desde 2006, menos de 50% dos adolescentes experimentam cigarros e álcool antes de experimentarem a cannabis pela primeira vez. Os resultados foram publicados na revista Drug and Alcohol Dependence .

“O consumo de álcool e cigarros declinou vertiginosamente nas populações de adolescentes por 20 anos, enquanto o consumo de maconha não diminuiu”, disse a PhD. Katherine M. Keyes, professora associada de Epidemiologia na Columbia Mailman School.

“A percepção de risco do uso da maconha sobre a saúde entre os adolescentes também está diminuindo, prevendo potenciais aumentos futuros. Em resumo, no momento em que as substâncias na sequência da ‘porta de entrada’ estão mudando, às percepções do público sobre as drogas de abuso também mudam”, acrescenta.

Os pesquisadores usaram dados de 40 pesquisas anuais de alunos da 12ª série norte-americana para estudar as tendências históricas no grau médio de início do consumo de maconha, álcool e cigarros; a proporção que experimentou álcool e/ou cigarros antes do primeiro uso de maconha, e a probabilidade de uso de maconha até o 12ª ano após experimentar bebidas alcoólicas/cigarros. Um subconjunto de 246.050 alunos foi questionado quando eles usaram cada substância pela primeira vez.

A porcentagem de estudantes que experimentaram álcool antes do consumo de maconha atingiu o pico em 1995, o ano em que 69% dos adolescentes em determinada série relataram beber álcool antes do uso de maconha. (…).

Em 1995, 75% dos alunos da 12ª série que experimentaram cigarros e maconha usaram cigarros antes da maconha; em 2016, a proporção caiu para 40%. A proporção que relatou experimentar cigarros no mesmo período da maconha aumentou de 20% em 1994 para 32% em 2016.

“Reduzir o tabagismo entre adolescentes tem sido uma conquista notável dos últimos 20 anos”, observou Keyes. “Agora, o papel mais proeminente da maconha nos estágios iniciais das sequências de uso de drogas e suas implicações é importante para continuarmos monitorando. Seu crescente uso sugere que a maconha é, e continuará a ser, um dos principais alvos dos esforços de prevenção ao uso de drogas”.

Comentário:

Observe o que a pesquisadora afirma: “Às percepções do público sobre as drogas de abuso também mudam”. Esta conclusão é muito significativa, porque ela diz respeito ao papel da cultura sobre a concepção de abuso de drogas, bem como a forma como a substância é encarada.

Vemos um grande esforço por parte de alguns movimentos em querer não apenas descriminalizar o uso da maconha, mas torná-lo algo bom, aceitável e sem potencial de prejuízo sobre os usuários, o que é mentira. É sobre esse ativismo que Katherine M. Keyes se refere ao falar de “percepções” que mudam.

A diminuição no consumo de álcool e cigarro seria algo bom se não fosse acompanhada da substituição pela maconha. Neste caso, o quadro que temos é ainda mais preocupante, porque o efeito que cada substância provoca no organismo é diferente, bem como o seu potencial de dependência e consequentemente o tratamento.

A maconha possui um potencial maior de dependência e os efeitos são mais danosos e imediatos se comparados aos do cigarro, por exemplo, ou mesmo do álcool se consumido moderadamente. Apesar de todas serem drogas, o uso mais frequente de uma substância com nocividade maior do que outras é um péssimo sinal.

Por: Stephanie Berger
Editora da Universidade de Columbia
Comentário: Will R. Filho