A legalização da maconha aumenta casos de psicose em nível populacional, diz estudo

Uma nova pesquisa do King’s College London é a primeira a demonstrar o impacto do consumo de maconha (cannabis sativa) nos índices de psicose em nível populacional, destacando suas consequências na saúde pública após a legalização da substância em vários países.

Um estudo inédito realizado em 11 locais diferentes da Europa, além do Brasil, e publicado na revista científica The Lancet Psychiatry, revelou o que na prática significa um duro golpe contra os defensores da legalização da maconha para uso recreativo.

O estudo revelou que em cidades como Londres e Amsterdã, onde o consumo da maconha é legalizado, houve uma proporção significativa de novos casos de psicose associados ao uso diário da substância, especialmente da que os pesquisadores classificaram como de “alta potência”.

Até o momento não haviam estudos dessa natureza, isto é, em nível populacional. Dessa forma, autoridades de todo mundo e representantes da sociedade civil envolvidos no debate sobre à legalização da maconha, podem usar como referência essa pesquisa como alerta contra o uso da substância.

A Dra. Marta Di Forti, principal autora da pesquisa e membro do Instituto de Psiquiatria, Psicologia e Neurociências inglês, falou sobre a importância dos seus achados, explicando os diferentes efeitos nocivos entre a forma mais suave da droga e outra mais potente.

“Nossos resultados são consistentes com estudos anteriores, mostrando que o uso de cannabis com alta concentração de THC tem mais efeitos nocivos na saúde mental do que o uso de formas mais fracas. Eles também indicam, pela primeira vez, como o consumo de cannabis afeta a incidência de transtornos psicóticos em nível populacional”, disse ela.

Di Forti ainda explicou que devido aos padrões de políticas públicas sobre o uso da maconha serem diferentes entre os países, assim como a qualidade da própria substância, é importante cada região considerar às consequências em seu próprio contexto (uma coisa é o uso medicinal, por exemplo, e outra é o consumo recreativo), sem deixar de reconhecer os “efeitos adversos” associados ao consumo da droga.

“Como o status legal da maconha muda em muitos países e estados, e como consideramos as propriedades medicinais de alguns tipos de maconha, é de importância vital para a saúde pública que também consideremos os potenciais efeitos adversos associados ao uso diário de maconha, especialmente variedades de alta potência”, disse ela, segundo a Neuroscience.

Um dos financiadores do estudo foi a Fundação de Pesquisa de São Paulo, além do Centro de Pesquisa Biomédica (BRC) do Instituto Nacional de Pesquisa em Saúde (NIHR) no Sul de Londres , o NHS Foundation Trust e King’s College London e o NIHR BRC, no University College Londres.

Ao todo, foram 901 pessoas avaliadas entre 2010 e 2015. A pesquisa mostrou que o número de casos de psicose entre os usuários e não usuários da maconha foi três maior entre os que consomem a droga, e  – cinco vezes – maior entre os que usam a forma mais potente da substância, a qual corresponde a 67% do uso na Holanda.

Os autores estimam que um em cada cinco novos casos (20,4%) de psicose nos 11 locais podem estar ligados ao consumo diário de cannabis, e um em cada dez (12,2%) está ligado ao uso de cannabis de alta potência.

Por exemplo, em Amsterdã, estima-se que quatro em cada 10 (43,8%) casos novos de psicose estejam ligados ao uso diário de cannabis e 5 em 10 (50,3%) novos casos ligados ao uso de alta potência. As taxas correspondentes em Londres foram de 21,0% para uso diário e 30,3% para uso de alta potência.

A pesquisa revela ainda que se não estivesse disponível o uso da maconha em sua forma mais potente em Amsterdã, os casos de psicose na população deveria cair de 37,9% para 18,8%, enquanto em Londres de 45,7% para 31,9%. Números esses que, em geral, estão associados ao consumo diário da droga.

Implicações para o debate da legalização

Esse não é o primeiro estudo que revela os efeitos nocivos da maconha entre os usuários. Há inúmeros neste sentido, porém, focando no indivíduo e seu consumo pessoal.

O que temos acima, no entanto, é uma pesquisa revelando tais efeitos prejudiciais em nível populacional, mostrando como a legalização da maconha é algo que afeta, sim, todo o sistema de saúde pública de um país.

Uma vez que a psicose é decorrente do uso da droga, o usuário necessita do acolhimento do Estado, afetando sua vida em vários aspectos, como o familiar, profissional e acadêmico, gerando assim uma reação em cadeia de situações problemáticas que não existiria, caso o mesmo não fosse um possível dependente químico.

Esse quadro se torna ainda mais grave quando pensamos nas comorbidades associadas. Ou seja, outros problemas de ordem psicológica/emocional, previamente existentes, que podem ser potencializados pelo uso da maconha.

Assim, é fato notório que o uso medicinal da maconha se diferencia absurdamente do uso recreativo. Enquanto o primeiro é viável e pode ser benéfico farmacologicamente, o segundo foge do controle estatal, cai no uso irresponsável e se torna mais uma ferramenta nociva contra à vida humana e coletiva.