Exercício físico combate o desejo pelo consumo de drogas, diz estudo

Pesquisas com camundongos sugerem que o exercício pode fortalecer a determinação de um usuário de drogas, alterando a produção de peptídeos no cérebro, o que ajuda no combate a dependência química, revela um estudo da revista ACS Omega.

Estudos mostraram que o exercício físico pode reduzir o desejo pelo consumo de droga e consequente recaída dos dependentes. Embora esse mecanismo fosse desconhecido, se pensava que o exercício alterasse a associação aprendida entre pistas relacionadas à droga e as sensações recompensadoras ao consumir a substância, possivelmente alterando os níveis de peptídeos no cérebro.

Jonathan Sweedler, Justin Rhodes e seus colegas da Universidade de Illinois, em Urbana-Champaign, decidiram explorar essa teoria quantificando essas mudanças peptídicas em camundongos.

Os ratos receberam injeções de cocaína durante quatro dias em câmaras especiais com uma textura de piso distinta para produzir uma associação da droga com esse ambiente. Os animais foram então alojados por 30 dias em gaiolas, algumas das quais incluíam uma roda de exercício.

Os pesquisadores descobriram que os ratos que se exercitaram nessas rodas tinham níveis mais baixos de peptídeos cerebrais relacionados à mielina, uma substância que ajuda a preservar memórias.

A reexposição ao ambiente associado à cocaína afetou de maneira diferente os ratos que praticaram exercícios e os sedentários:

Em comparação com os ratos sedentários, os animais com rodas de exercício mostraram uma preferência reduzida pelo ambiente associado à cocaína. Além disso, os cérebros dos corredores reexpostos ao ambiente de estímulo continham níveis mais altos de peptídeos derivados da hemoglobina, alguns dos quais estão envolvidos na sinalização celular no cérebro.

Enquanto isso, peptídeos derivados da actina diminuíram nos cérebros de camundongos sedentários reexpostos. A actina está envolvida no aprendizado e na memória e está relacionada ao desejo de busca pelas drogas.

Os pesquisadores dizem que essas descobertas relacionadas a mudanças nos peptídeos ajudarão a identificar biomarcadores para a dependência de drogas e consequente recaídas.

Comentário:

A maioria dos estudos relacionados à dependência química procura traduzir o problema do abuso de drogas em uma linguagem biomédica, apontando possíveis “causas” e “soluções” provindas de alterações químicas no organismo do usuário. Essa linha de raciocínio, no entanto, apenas reflete o modelo clinicalista de saúde que há décadas norteia boa parte dos trabalhos voltados para esse tema.

O estudo acima, por exemplo, demonstra isso. Seu objetivo em última instância é identificar “biomarcadores” que possibilitem a criação de fármacos específicos para o combate da dependência química. A lógica em questão, portanto, é muito mais comercial do que crítica do problema.

É evidente que o exercício físico afeta o organismo, ajudando na produção ou inibição de determinadas substâncias que, consequentemente, irão afetar o sujeito, lhe ajudando ou prejudicando. O problema está em compreender tais efeitos isoladamente, especialmente no caso dos seres humanos.

A motivação para o exercício é a chave da questão, e não o exercício por si só. Certamente os camundongos que puderam se exercitar o fizeram porque o movimento em uma câmara fechada, onde são prisioneiros, lhes possibilitou maior sensação de liberdade e conforto, ao invés dos outros que não puderam se exercitar.

O ambiente mais próximo da sua vida instintiva e a consequente sensação de prazer, naturalmente inibiu o desejo dos camundongos atletas pelo uso da cocaína, quando comparados ao grupo que foi privado dessa oportunidade.

A ociosidade é, por si só, um incentivo ao entorpecimento, quando sabe-se que ele está disponível. Portanto, compreender às respostas do comportamento partindo do seu ambiente motivador é imprescindível para lidar com o problema da dependência química, e esta é a realidade vivenciada pela maioria dos dependentes químicos. Para mais informações quanto a isso, estude Bruce Alexander.

Por: Katie Cottingham
Editora da ACS
Comentário: Will R. Filho